sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Crônica II - Em continuação a Crônica I (texto logo abaixo)

Esta continua sendo uma história de ficção. Qualquer semelhança com pessoas ou fatos reais será uma deliciosa e mera coincidência.

"Arraial dos mosquitos, 5 de setembro de 2013.

Cena I
No gabinete do prefeito, o telefone não para de tocar. Todos querem falar com o prefeito. Mas ele não está. E o pior, ninguém sabe onde ele foi parar. Como um quati, o prefeito está escondido em alguma toca e não avisou ninguém para onde teria ido.

Cena II
O barulho de um carro novo, recém-comprado pelo prefeito, interrompe o sacro-silêncio da casa paroquial.
Com cara de enterro o prefeito entra sem ser comunicado e senta na mesa do compadre, quer dizer, do padre.
- compadre, quer dizer, padre, eu vim me confessar. Como você sabe eu fui eleito prefeito e a coisa tá ficando feia pro meu lado. O juiz eleitoral cassou meu mandado e ainda me condenou a uma multa enorme, que eu não sei como pagar. E prá piorar, hoje é o julgamento do TRE. Acho que eu vou dançar...
- olá meu filho. Seja bem vindo. Você estava sumido, hein. Fiquei sabendo inclusive que você foi visto participando de cultos na igreja evangélica. Será que você não veio para o local errado?
- pois é, padre. Mas agora que eu vou perder meu cargo, parece que todos meus "amigos" me abandonaram. E eu sei que o senhor não me abandonaria...
- isso é verdade. Estou aqui para receber todos os filhos pródigos de nossa cidade... Então eu vou receber sua confissão.
- confissão? como assim?
- você não veio para confessar?
- foi.
- então pode começar...
- mas padre eu vou ter que falar tudo que eu fiz?
- e também o que você não fez. Você passou 9 meses na prefeitura e nada foi feito. Depois de 9 meses sempre nasce uma criança. Aqui na nossa cidade, por falta de hospital, tem tempo que não nasce ninguém. Nada mudou. Apenas esse carro que esta aí na porta. Faça o seguinte. Vá para casa e faça um bom exame de consciência e depois volte para conversarmos.
- ora compadre, quer dizer, padre. Lá vem o senhor com essa história de novo...
E o prefeito saiu, bastante preocupado...

Cena III
Minutos depois, o possante do prefeito foi procurar seu melhor amigo e uma das pessoas que financiaram sua campanha eleitoral para uma conversa.
- Amado mestre. Seja franco comigo. Voltei ao padre para confessar e ele veio me falar de novo no tal exame de consciência. Será que eu vou ter que contar tudo que aconteceu?
- Gafanhoto, mais uma vez você está parecendo um quati. Deixe o padre de lado. Vá gastar o dinheiro que você ganhou. Alías, muito bonito o seu carro novo?
- Mas mestre, com a multa que o juiz eleitoral me deu, vou ter que vender tudo que eu tenho e ainda vai faltar dinheiro.
- Não seja burro gafanhoto! Nós não distribuimos dinheiro na eleição? Agora vá aos eleitores e pegue o dinheiro de volta. Nada mais justo...
- Obrigado mestre. Você foi franco como sempre.

Cena IV
E o prefeito começa sua peregrinação para recuperar a grana que gastou na eleição comprando votos.
A primeira parada é na loja de materiais de construção.
- Prefeito, o senhor por aqui?
- E minha passagem é rápida. Meu amigo Cândido, quero dizer Alvo, a coisa está preta. Vou precisar pagar uma multa prá justiça e não tenho um tostão furado. Você poderia me ajudar?
- Claro prefeito! Mais branco do que o meu nome. Vou ajudá-lo.
- Que bom. Sabia que eu podia contar com você.
- Eu lembro de cada pessoa que estava na carreata dos tratores. Vou te passar a lista com os endereços e você vai até eles pegar seu dinheiro de volta.
- Mas e você, meu claro amigo Cândido?
- Eu vou trabalhar, coisa que o prefeito esqueceu como se faz.
E o prefeito saiu da loja de materiais com cara de tacho...

Cena V
O prefeito, então, pega seu possante e vai até o Supermercado Ouro, onde seu companheiro de campanha já o esperava.
- Meu caro Ouro. Estou precisando de suas pratas...
- O que é isso prefeito. Você não dá nem bom dia?
- Desculpe, mas eu estou desesperado. Preciso de arrumar dinheiro para pagar a multa da justiça eleitoral. E sei que posso contar com suas pratas....
- Meu amigo prefeito, desse mato não sai quati. Quero dizer, não sai cachorro. A prata por aqui tá escassa. Desde a eleição, que as coisas não acontecem na nossa cidade. E o movimento tá muito fraco...

Cena VI
Então a fome aperta a barriga do prefeito. E ele resolve comer um chambaril na frente da prefeitura. Lá chegando, ele comenta com o empresário dono do quiosque o seu sofrimento, em busca de dinheiro para pagar a multa
- Prefeito eu tenho uma idéia. Vamos fazer uma campanha para arrecadar fundos. o MPalma Esperança!
- Para doar 7 reais, ligue 0500 2013 007
- Para doar 20 reais, ligue 0500 2013 020
- Para doar 40 reais, ligue 0500 2013 040
- Boa idéia.

Mas antes do prefeito começar a divulgar sua campanha, os foguetes começam a estourar na cidade. É o prenúncio de que o TRE tomou a decisão que cassou seu mandado. Sem saber o que fazer, o prefeito pegou seu carro novo, e como um quati, foi se esconder em alguma toca por ai.


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